É um absurdo que se tenha propagado
por meses que o Rio tinha entrado num ciclo virtuoso, tese que foi
desmentida num único artigo e que misteriosamente levou o secretário de
desenvolvimento a coincidentemente retornar a iniciativa privada e que
depois disso não se toque mais no assunto. O Rio precisa entrar num
ciclo virtuoso de verdade e isto merece uma discussão pública, porque a
chance é única e não pode ser desperdiçada.
A mídia internacional não para de
dar agourentas informações, como que para lembrar-nos de que a continuar
como está indo o Brasil, esta crise passará a ser também realidade no
contexto nacional. Somos bombardeados o tempo todo com notícias sobre
uma crise que não tem fim, provocada por irracionalidade econômica
insustentável e que está revelando ao mundo o despreparo mundial dos
políticos para a administração pública, que deveria ser tocada por
profissionais competentes e que respondam por isso judicialmente.
Sobretudo neste momento em que os arautos econômicos não conseguem
acertar uma previsão, o que somado às já tradicionais medidas adotadas
pelo FMI, estão dizimando o que restou da economia e da qualidade de
vida dos cidadãos comuns. Tudo para tentar sanar um colapso que não foi
provocado por eles e sim por administrações corruptas, que incrivelmente
estão protegidas mesmo depois de acentuarem o abismo socioeconômico que
tanto favorece aos atuais ambientes primaveris (ou de pesadelos) que
estão se espalhando pelo mundo e trazendo à tona cada vez mais tragédias
socioeconômicas.
A tão propalada liberdade de
imprensa é solapada de diversas formas pelos diferentes regimes em todos
os pontos do planeta para mascarar que a realidade é péssima, em todos
os sentidos, para o cidadão comum, que sofre na pele os diversos
problemas provocados pelo establishment, que descaradamente
ignora os problemas que causa, por exemplo, ao clima com este
inconsequente aquecimento global que tanto prejudica a todos,
principalmente aos desfavorecidos.
Depois de décadas de neoliberalismo,
que foi o responsável comprovado por esta crise mundial na qual os
lucros foram acintosamente privatizados e os prejuízos socializados, é
no mínimo estranho que não se fale em acabar com essa irracionalidade
econômica que acentuou o abismo social acabando com a proporcionalidade
existente entre quem estava no topo e na base da pirâmide. O mundo não
pode continuar um imenso cassino, assim como é inaceitável que o número
de milionários se multiplique ferozmente surgindo do nada, através de
mecanismos corruptos que degradam a condição de vida da coletividade. A
coisa está tão explícita que os EUA tiveram que adotar mecanismos que
barrem estas anomalias que impedem o desenvolvimento da economia, ao
interferirem fraudulentamente no princípio da livre concorrência e estão
causando um verdadeiro furor internacional com uma lei nova que permite
proteção total e prêmios polpudos em dinheiro a quem fizer as chamadas
“delações premiadas” de relações corruptas entre empresas para ver se
sua economia, desta forma, se recupera. Por que será que não se faz isso
aqui?
Esta lei foi feita para punir uma
prática que sempre foi cometida pela maior economia do mundo, mas que se
voltou contra eles, graças à globalização e ao clima atual de
bandidismo na economia mundial, em que grupos empresariais corrompem de
todas as formas para fraudulentamente liquidar corporações rivais
impedindo-as de competirem em pé de igualdade. Assim, enfraquece-se toda
a atividade na cadeia produtiva, conhecida popularmente como economia
de mercado. Isto acontece graças a uma enlouquecida procura por lucros
cada vez maiores, fato que é completamente insustentável e que acabará
da pior maneira possível, pois provoca o surgimento de mecanismos
corruptores que provocam fraudes bilionárias prejudicando o
desenvolvimento saudável da economia, além de provocar uma irresponsável
instabilidade econômica que derruba países sem se preocupar com o que
acontecerá com suas populações. Um exemplo disto é o fato de normalmente
serem utilizados sete estádios para uma Copa do Mundo, mas aqui no
Brasil a exuberância é tamanha que serão feitos nove, e, claro, que pelo
menos sete já estão fadados a serem deficitários, verdadeiros elefantes
brancos e ainda por cima superfaturados. E daí?
Outro dia tive de engolir uma
análise de um alemão, explicando que, por ele, deixava estes países em
crise quebrarem e consequentemente atirar suas sociedades num abismo,
porque depois seria mais fácil reerguê-las. Afinal, qual é o valor de
vidas humanas e suas dignidades para um economista? Pelo visto, nenhum,
pois o que importa é o negócio a ser feito e o tamanho do lucro sem se
importar com consequências. Até quando?
Estamos assistindo as relações
sindicais desmontarem-se em todo o mundo porque os sindicatos deixaram
de representar seus associados e passaram a agenciar somente seus
dirigentes que estão a décadas no poder, ficaram riquíssimos e, claro,
continuam estimulando a corrupção de forma endêmica. Ou seja, há um
movimento ainda no estágio inicial que evoluirá para uma participação
efetiva da sociedade na condução do seu destino, nas ditas políticas
públicas, porque na democracia o poder emana do povo e para o povo, mas
este se ausentou do poder decisório influenciado por décadas de
estabilidade econômica, em que o problema não estava em casa e sim nos
países em desenvolvimento. Sendo que isto tinha que ser resolvido pelo
controle da natalidade porque senão, segundo um economista inglês,
Thomas Malthus, o oráculo da época, estes irresponsáveis destruiriam os
recursos naturais que os desenvolvidos se achavam no direito de pilhar,
descaradamente.
Só que com esta crise mundial tudo
virou de ponta cabeça, pois os ditos desenvolvidos estão perdendo sua
qualidade de vida e empobrecendo enquanto os em desenvolvimento estão
formando uma nova classe média que quer consumir e o dilema que está
surgindo terá que ser resolvido, pois a classe média americana tem
direito a ter quatro carros e a indiana continuará a andar de bicicleta?
Com a explosão socioeconômica em andamento surgirão no mercado sete
bilhões de pessoas na próxima década e não há espaço para todos
consumirem como a classe média americana ou italiana. Está na hora de a
sociedade brasileira acordar para isso e se planejar em curto, médio e
longo prazos, antes que elas nos atropelem.
Chegaria a ser cômico se não fosse
muito trágico o fato de que após décadas de neoliberalismo onde se
pregou a ineficiência do estado em defender a qualidade de vida do
cidadão, quando o grande negócio era repassar para a iniciativa privada
os serviços mais rentáveis e que sempre foram bem executados pelo
estado, o que demoliu a saúde pública dos EUA, por exemplo, além de
incursões no ensino, transportes, estradas, saneamento básico entre
outros itens que eram defendidos por constituições democráticas. Agora,
na hora do prejuízo, estas mesmas instituições estão pregando o
contrário, de que é a hora de as instituições públicas dilapidadas
socorrerem instituições privadas que detém concessões privilegiadas, mas
que estão falindo por terem praticado gestões temerárias e
fraudulentas. Não é espetacular o pensamento neoliberal? Alguém se
lembra do Banco Marka, da Sadia e outras empresas que estavam apostando
irregularmente no dólar, quebraram e foram socorridas com dinheiro
público? É assim que funciona. Vamos continuar permitindo isso por aqui?
É para isso que trabalhamos quase cinco meses por ano? Para vermos
nossos impostos serem dilapidados por uma administração pública feita
por políticos corruptos?
Os economistas pregavam que com a
globalização o Estado-Nação estava condenado à irrelevância porque a
revolução nos transportes e nas comunicações pulverizou fronteiras e
encolheu o mundo. Tome de novas formas de governo desde redes
transnacionais de agências de regulamentação até organizações
internacionais da sociedade civil e instituições multinacionais que
vinham transcendendo e suplantando parlamentos nacionais. Até a crise
dizia-se que as autoridades políticas domésticas eram impotentes ante os
mercados mundiais. Só que a atual conjuntura financeira exterminou
todas essas teorias. Quem socorreu os bancos encalacrados que apostavam
contra nações, injetou liquidez dando sobrevida ao mercado, empenhou-se
em estímulos fiscais abaixando juros e utilizando todo um arcabouço de
medidas econômicas legais, proporcionou um mínimo de redes de segurança
social para desempregados e está tentando evitar a escalada da
catástrofe? Quem está reescrevendo ainda de que de forma hesitante as
regras de supervisão e regulamentação dos mercados financeiros para
impedir outra crise?
O Estado-Nação é simplesmente a
única arma do povo para ter acesso ao princípio mais adotado nas
constituições por todo o mundo, que prevaleceu da revolução francesa,
marco maior da utopia moderna, o princípio básico da liberdade,
igualdade e fraternidade, que é o sonho mundial. Ele precisa
desesperadamente que o cidadão acorde de sua passividade bovina, se una e
venha participar ativamente da democracia ditando regras para impedir
que menos de 0,5% da população continuem a regular o mercado de uma
forma na qual só eles ganhem e ainda por cima permaneçam impunes na sua
insana procura por lucros cada vez maiores, o que com certeza irá
provocar, de novo, outra crise mundial como essa que torrou trilhões de
dólares, milhões de empregos e virou a economia de ponta-cabeça,
atirando na miséria diversos países e suas sociedades. O Estado-Nação
pode ser uma relíquia, mas é tudo o que temos para enfrentar a tirania
da corrupção.
Deu para entender a dimensão do
problema e a absurda necessidade de as pessoas acordarem e se unirem
para através do sistema democrático impedir que isto volte a acontecer,
porque como estamos vendo, a falta de uma regulamentação sólida gera
falta de confiança nas atuais estruturas, o que trava o consumo
impedindo que a roda da economia volte a girar, sem sobressaltos, porque
o cassino continua funcionando, apenas as apostas mudaram de mercados e
agora existem até máquinas que rodam programas que ficam 24 horas por
dia procurando brechas para que alguns possam continuar especulando com a
saúde econômica de todos. E para acabar com essa exuberância do
mercado, é necessário planejamento e uma cobrança muito firme de toda a
sociedade unida, porque como estamos vendo, menos de quatro anos do
maior crise financeira do mundo, nada mudou, a especulação continua, a
regulação não sai do zero e assim não chegaremos nunca a um modelo que
iniba a sanha autodestrutiva do establishment. Espero que você,
leitor e cidadão, já tenha entendido que se depender de quem está no
poder, nada mudará, para que tudo continue como está, porque para eles,
irresponsavelmente, assim é que está bom e deve continuar.
Como só agora podemos entender
claramente, não foi à toa que “conseguimos” o inédito direito de
consecutivamente sediarmos os dois maiores eventos midiáticos do planeta
e que agora estão sendo vistos como realmente são: o establishment corrupto
lucra absurdamente com estes eventos que exigem investimentos de
bilhões de dólares e que depois se revelam injustificados proporcionando
às economias que os promovem uma conta sem retorno, que será paga à
custa de pesados sacrifícios socioeconômicos que prejudicam a qualidade
de vida local por décadas. Em alguns casos, atirando as economias
afetadas numa bancarrota total, como estamos assistindo estarrecidos com
a Grécia, que sediou uma Olimpíada, investiu bilhões de dólares, ficou
com lindos elefantes brancos que se somaram a uma crise sem precedentes
produzida por uma especulação imobiliária irresponsavelmente desenfreada
apoiada pela banca internacional que teve lucros abissais. E que está
revelando ao mundo o que uma corrupção exorbitante, aliada a políticos
despreparados e corrompidos, pode acarretar a uma economia, destruindo
na maior canalhice a qualidade de vida e dignidade de uma população. É
isso que queremos para o nosso futuro?
Esse distanciamento da política que
se iniciou forçado pela ditadura produziu o resultado que estamos
contemplando, pois quando não exercermos nossas obrigações democráticas
ativamente o que acontece é uma corrupção como a atual, que arrasa o
desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental, deixando a
sociedade civil a mercê de serviços públicos, privados e de uma
qualidade de vida como a que estamos sentindo na pele, enquanto a
publicidade oficial nos mostra sadicamente outra realidade.
O fato é que indiscutivelmente todos, rigorosamente todos os poderes constituídos, fugiram do controle, inclusive a imprensa
e, como estamos vendo diariamente, estão “supostamente” unidos para
assaltarem os cofres públicos, na maior impunidade. Isto não aconteceu
de uma hora para outra, vem sendo desenvolvido há décadas, culminando
com malfeitos sendo praticados num clima de normalidade total que,
quando descobertos, são explicados por uma descarada justificativa de
que todo mundo faz isso, por que eu não posso? Não é só caixa dois,
aonde já se viu no mundo a quantidade de partidos que tem aqui, sendo
que há vários novos prontos para entrar na mamata, pois além de
receberem verbas públicas, ainda vendem acintosamente a participação nos
seus horários eleitorais, aderem mediante ministérios com porteira
fechada a quem estiver no poder, querem aquela diretoria que fura poço,
tudo com um só objetivo: “supostamente” roubar! Até quando as empresas
públicas darão prejuízos incalculáveis sendo “administradas” por
políticos e ao passarem para a iniciativa privada a preços de “pai para
filho”, miraculosamente passam a dar lucros fabulosos? Como funcionários
públicos concursados permitem que fatos como esses se tornem rotina
arriscando a perder seus empregos como aconteceu na Rede Ferroviária
Federal, na Varig etc.?
Junte a isso a total falta de
planejamento da economia em curto, médio e longo prazos, mesmo com a
estabilização da economia, rombos anuais de cerca de R$ 80 bilhões só na
esfera federal graças a uma gestão “política” aliada a títulos públicos
que pagam 9,5%, enquanto nas outras economias este valor tende a zero,
supervalorizando o Real e liquidando com a atividade industrial que não
consegue ser modernizada para poder competir de igual para igual nessa
economia globalizada e onde bancos têm lucros maiores do que as
indústrias graças a um spread e taxas indecentes e veremos um cenário perfeito para uma crise se instalar e quebrar todo mundo.
Como explicar que os dirigentes da
CBF e do COI, que estão no poder há mais de duas décadas, enriqueceram
de maneira indecentemente irreal? Como explicar que mesmo “supostamente”
envoltos em escândalos bilionários eles ainda permaneçam em seus cargos
usufruindo o poder e influenciando como os bilhões em investimento
serão gastos? Pior, como explicar que de vez em quando esses mandatários
frequentam as páginas policiais e de repente essas reportagens
desaparecem da mídia misteriosamente assim como apareceram na maioria
das vezes por brigas entre eles pelo butim? Por que essas relações que
implicam diretamente no patrimônio esportivo cultural popular não são
transparentes e nem se cogite isso? E como se justifica que os clubes
estejam falindo, nossos melhores jogadores sejam vendidos imediatamente
ao se destacarem, enquanto a empresa que monopoliza os direitos de
imagem dos jogos tenha lucros bilionários e que diante da ameaça de uma
licitação pública, de uma hora para outra os valores sejam aumentados em
mais de 100% e mesmo assim ainda sejam migalhas perto do que poderiam
ser pagos se houvesse competição entre os diversos segmentos
patrocinadores? Por que o esporte, que é tão importante na formação
moral de nossos jovens, que deveria ensiná-los a competir, perder com
dignidade para aprender a ganhar e principalmente formar campeões para
influenciar nossa juventude dentro do princípio de “mens sana in corpore
sano”, vive envolto num mar de lama da corrupção, deixando de
influenciar um comportamento moralmente ético e fisicamente saudável na
população?
A história só se repete como farsa
se nós deixarmos, e como a coisa está apertando de todos os lados, está
na hora de nos unirmos e reagirmos. É incrível a quantidade de problemas
que atormentam a população do Rio, que nunca melhora, simplesmente
piora e nada acontece. Nenhum órgão regulador age e, o que é pior, os
secretários das áreas em questão dão entrevistas cínicas dizendo que a
culpa é dos usuários que não sabem se comportar e que ainda por cima são
agredidos com bombas e cacetadas. Como tudo que pode piorar, piora,
agora até o edifício Liberdade desabou e levou mais dois prédios de
roldão, iniciando um processo que expôs as entranhas da administração
pública do RJ que, por ser política, não tem o menor preparo para lidar
com problemas emergenciais.
Afinal, para que servem nossos
políticos que, como estamos descobrindo, mesmo com toda a censura, sim,
censura!, formaram uma aliança “mui amiga”, que não se opõe a nada,
porque cada partido “administra” sua secretaria, fazendo “supostamente”
suas negociatas por debaixo dos panos, como de vez em quando
descobrimos, zelam por suas vantagens se concedendo aumentos indecentes,
aos quais não temos direitos, sempre inchando suas câmaras setoriais,
para cada vez mais dividirem o poder obtendo assim mais vantagens?
Você conhece algum lugar no mundo
onde bueiros explodem regularmente, prédios desabam, barcas batam,
bondes, que todos sabiam que iam dar problemas, continuem funcionando
até uma tragédia, trens, que são verdadeiras sucursais do inferno,
quebrem regularmente, por total ineficiência das concessionárias que
faturam “os tubos”, onde o cidadão perde rotineiramente mais de cinco
horas por dia para ir e vir do trabalho chegando a ter de se sujeitar a
dormir nas ruas, que epidemias com mortes se repitam anualmente, onde as
pessoas morrem por falta de UTI diariamente, que pessoas morrem por
balas perdidas regularmente, que a violência policial exploda
regularmente nos subúrbios e periferias, que os alunos frequentem as
escolas e ao serem avaliados apresentem resultados decepcionantes, que
as praias estejam poluídas regularmente, que os pontos de poluição nos
rios se repitam regularmente, que as políticas públicas sejam pensadas
exclusivamente como propaganda de um determinado político prejudicando
desta forma a administração como um todo, que os mesmos problemas se
repitam regularmente há décadas, que os mesmos escândalos
administrativos se repitam regularmente, sendo que a impunidade é a
única coisa que funciona… como no Rio de Janeiro?
A administração pública mente de
forma irresponsável, quando questionada, ignora o assunto, mas aumenta a
verba de divulgação, sendo que com isso a mídia casualmente se cala e
assim vamos perdendo uma chance única de se reinventar o Rio como outros
lugares que tinham problemas iguais ou piores do que os nossos
conseguiram superar e hoje são exemplos de qualidade de vida.
É um absurdo que as mesmas
estatísticas sem fundamento sejam publicadas pela Riotur, mesmo se tendo
denunciado num artigo como os outros lugares divulgam as suas com
confiabilidade, ou seja, há um claro intuito de enganar a opinião
pública por parte de quem publica isso, sabendo que não são críveis. A
mídia, por outro lado, está externando a preocupação do trade
com o aumento de números de apartamentos, o que gerará um aumento de
oferta superior à demanda, já que não há uma política definida para o
setor de turismo e que o centro de convenções que foi apregoado como o
maior legado olímpico tenha sido desmascarado como um erro colossal
confessado por seu idealizador que hoje escreve pedindo que o
planejamento seja priorizado? Como se explica que uma cidade que tenha o
maior potencial conhecido para o turismo do mundo só receba bandeiras
hoteleiras econômicas quando deveria ser a vanguarda mundial do setor e
privilegiar um turista de qualidade e de negócios que irá exigir
acomodações mais luxuosas e logicamente gastar mais, aumentando a
arrecadação? É inadmissível que o estado e o município não desenvolvam a
vocação natural do Rio, que é muito superior em termos de retorno
socioeconômico, cultural e ambiental a do Pré-sal e que ainda por cima
pode eternizar milhões de empregos e promover uma qualidade de vida
única no mundo.
É um absurdo também que um ex-diretor do IAB publique um artigo no jornal O Globo
dizendo que as favelas cariocas terão o mesmo destino das cidades
medievais européias e das ilhas gregas que inicialmente eram moradias
populares e que hoje desfrutam de arquitetura e beleza singular, graças à
prefeitura, que prometeu que suas urbanizações seriam um dos principais
legados olímpicos, já que ela afirma ter caixa para realizar melhorias,
o que é um engano porque essas verbas são carimbadas pelo Banco
Mundial, que concedeu o maior empréstimo do mundo ao Rio, acreditando
que isso será feito, não se sabe como, ainda mais depois da experiência
fraudulenta com a despoluição da Baía de Guanabara. Estas declarações
surreais até para a demagogia reinante acontecem porque o IAB promoveu
um concurso no qual foram “escolhidos” 40 escritórios técnicos de
arquitetura para torrar esses bilhões que o município diz ter,
elaborando projetos de urbanização e de melhorias habitacionais em
diversos agrupamentos das ditas comunidades e até agora o prefeito não
se manifestou se esta mamata vai acontecer ou não.
É um absurdo ainda que sejam feitas
obras públicas por motivos estéticos, como a demolição do viaduto da
Perimetral, utilizando um dinheiro público (CEPACs) que necessariamente
teria que ser investido em obras que aumentassem a fluidez do tráfego de
veículos, ainda mais quando a área envolvida já seja reconhecidamente
um caos e que poderá parar de vez, dado ao aumento de veículos de cerca
de 40 mil veículos por ano sem que irresponsavelmente sejam definidas
políticas que resolvam o incremento do setor. A situação fica absurda
quando se descobre que estão previstas para a área portuária, num
projeto que não decola por não apresentar sustentabilidade alguma, além
de não revitalizar a combalida economia municipal, cinco mil edificações
entre multifamiliares e escritórios, sendo que poderá se construir até
50 andares, o que levará confusão total ao trânsito daquela região que é
o principal elo de ligação rodoviário do Rio, já que alimenta os ramais
básicos da cidade. Para piorar querem que a atual área do gasômetro,
junto com São Cristovão, seja incorporada à especulação imobiliária com
gabarito de até 50 andares, o que é completamente irracional e que já
gerou dentro do mercado imobiliário propostas de construção de prédios
com atividades mistas como o famoso Edifício Menescal em Copacabana, que
viveu seus tempos de glória e hoje se encontra em franca decadência,
porque como já se admite descaradamente que o trânsito só irá piorar
para o futuro, por total falta de políticas públicas e principalmente de
fontes de verba para que se possa encarar o problema, a ideia agora é
resgatar esse conceito jurássico e continuar especulando enquanto der.
É um absurdo que a revitalização da
área portuária, que tem por obrigação levar desenvolvimento a todo o Rio
de Janeiro, como, aliás, aconteceu em todos os lugares do mundo onde se
recuperaram essas áreas degradadas, pela diminuição acentuada da
atividade portuária frente a novas formas de transporte, não tenha um
planejamento para ser apresentado à sociedade e seja apenas um projeto
de especulação imobiliária que comprovadamente vai estagnar para sempre
uma economia que poderia ser revitalizada se as autoridades tivessem
esta intenção e não “supostamente” um compromisso com seus financiadores
de campanha.
É um absurdo que a cada hora uma
coisa diferente seja apontada como legado olímpico e que depois de um
artigo mostrando que não é bem assim estes legados sejam relegados ao
invés de discutidos publicamente para que de uma discussão abalizada
surjam soluções que justifiquem os bilhões que estão sendo investidos na
cidade até 2016. Eles terão que, ao invés de virarem elefantes
carissimamente brancos, produzir meios que ajudem necessariamente a
pagar a conta que irá ser apresentada e que inexplicavelmente ninguém
toca nesse assunto. Ela será paga com o nosso dinheiro e precisamos nos
unir e acompanhar o que está sendo feito. O novo píer para atender à
demanda dos visitantes que chegam para a temporada de verão, que já foi
apontado como um legado e depois relegado ao esquecimento, é uma farsa,
não apresentando a menor condição de atendê-los com a necessária
dignidade, já que não estão previstas e nem existem projetos com as
necessárias áreas para embarque e desembarque para os veículos que
atenderão milhares de pessoas simultaneamente em um mesmo horário. O
carnaval deste ano provou isto, o caos se instalou no local e isto
precisa ser discutido e resolvido antes que mais verba seja
desperdiçada.
É um absurdo colossal que os
aeroportos estejam sendo licitados com discussão em cima do aumento de
demanda do mercado interno e não se esteja raciocinando em termos do
mercado turístico que tem o maior potencial do mundo, caso seja
desenvolvido em sua plenitude com sua característica de geração de
emprego, renda, formação de produtos com a marca Brasil, indústria
criativa e que tais que podem responder por mais de 15% do PIB. Com o
detalhe que há um potencial de crescimento absurdo do setor, que engloba
a maior indústria do mundo, com poder de alavancar fortemente nossa
economia, já que o mercado aéreo hoje é comparado com o americano de 40
anos atrás e que estamos próximos a ser a 5ª economia do mundo embora
não se enxergue isso no mercado, apenas no PIB e que o turismo é de
fundamental importância para que isso passe do PIB para o mercado, pois
como é notório um país só é bom para os visitantes quando também é para
seus moradores.
É um absurdo colossal que o Rio,
diante de uma chance única de se reinventar, não tenha o menor indício
de um planejamento de curto, médio e longo prazos, com âncoras definidas
e metas críveis apresentadas para que a sociedade as aprove e participe
da formatação de um futuro no qual todos se vejam inseridos e com
ganhos de qualidade de vida em todos os sentidos e, ao invés disso,
esteja assistindo a uma especulação imobiliária completamente
irresponsável, cujo mote já diz tudo (“30 anos em 5”), porque, como
sabemos, o pós-2016 será trágico.
É um absurdo mais colossal ainda que
não tenhamos a menor idéia do tamanho do rombo orçamentário que advirá
ao pós-olímpico, porque não há a menor intenção em divulgar o tamanho da
conta que irá chegar e de onde irá sair o dinheiro para pagá-la, visto
que não há rentabilidade prevista em nenhum investimento, além do que
não existe a menor vontade política de revitalizar nossa economia
destruída por mais de meio século de administrações demagógicas e
corruptas e sim em agradar aos seus apoiadores eleitorais. Tomem como
exemplo o Maracanã, que acabou com a geral e deixará de receber o povão,
os popularmente conhecidos como geraldinos e ainda por cima, após
investimentos que somados passam de um bilhão de reais, será entregue à
iniciativa privada por um aluguel que jamais permitirá o retorno do
capital investido, mas possibilitará que algum grupo amigo fature
milhões anualmente.
É um absurdo colossal que a
sociedade permita que um grupo de especuladores e políticos corruptos
jogue no lixo uma oportunidade única de reinventar o Rio, e
consequentemente o Brasil, dentro do conceito de Estado-Nação com ética e
qualidade de vida como praticamente 100% da população anseia. E aí,
vamos permitir isso?
Por: José Paulo Grasso (Engenheiro e coordenador do Acorda Rio)
Link: http://acordario.com/?p=472&fb_source=message
Por: José Paulo Grasso (Engenheiro e coordenador do Acorda Rio)
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